Era noite de festa. O vestido que ela usava era azul-escuro como o início da noite, e muito mais profundo que o azul-claro dos olhos do homem que dançava despreocupado em outro canto do salão. Cheio de camadas e pesado. O vestido, não o homem. E chegava a ser um problema, porque ninguém, naquele salão, estava com um vestido daquele estilo. Ninguém. Todos usavam roupas mais leves e confortáveis, enquanto ela se sentia presa em sua armadura azul, da qual não podia sair. Chamava demais a atenção dos convidados, e todos a olhavam e perguntavam: “você vai dançar a valsa?” Sim, ela pensou. Mas não haveria valsa, e isso ela descobriu só depois que entrou no salão. Levou um choque. Todos dançavam outra música, o que aquele vestido imenso tornaria difícil. Talvez ela mesma não quisesse dançar a mesma música que os outros, cansou-se disso.
Então sentou para esperar o homem dos olhos azuis, que não veio. Apareceu outro, um desconhecido que sentou ao seu lado e a convidou para dançar um estilo de música diferente. Mas ela fingiu não ouvir. Estava preocupada demais em não se tornar o foco dos olhares, o que já havia acontecido. E tudo por estar usando aquele vestido azul. Aquele com os detalhes em prata, que ela escolheu cuidadosamente na loja pra dançar a valsa. Que valsa? A que ela havia dançado tantas vezes em seus sonhos, de certo. Mas aquilo que ela vivia agora era um pesadelo. Sentia-se deslocada, no lugar certo com o traje errado. E tudo o que queria era apenas que alguém dançasse a mesma música que ela.
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8 perdidos por aqui:
Por vezes, sinto-me destacado! [Obviamente sem vestido!]
Não sou e nem fico confortável, também não atraio olhares, sigo invisível a quase tudo... quase sempre fechado em mim...
Identifiquei-me também num momento com o desconhecido, o outro, que talvez não sentia-se bem por ser comum... Parece-me que é normal a alguns homens procurarem força e renovação em outros corpos [FEMININOS!]... ainda que não possamos mudar as expectativas da moça perdida, ainda que não nos dê oportunidade...
'piadinha sarcástica, por isso gosto de música eletrônica, dance como quiser, será aceita e bem vinda...'
Obrigado pelo post, meu comentário não reflete o que compreendi!
Beijo suave, molhado, no pé!
Que mulher já não passou por isso?
Arrumada demais, arrumada de menos, essa maldita sensação de estar fora de lugar e na realidade a unica coisa que esta fora de lugar é este sentimento.
Muito boa história.
Um feliz 2010
beijos
Gostei do texto é uma situação onde qze todo mundo já passou como disse a colega ai de cima: Angela.
mas acredito que sempre iremos passar por situações assim ...
um feliz ano novo Karina muita paz e saude menina !!
beijo grande !!
Oi Karina,
Que delícia de texto... Adorei!!
Quantos sonhos costumamos fazer, ter e, de repente, descobrimos que não era bem assim ou que não é hora e lugar dele virar realidade. Sentimos meio deslocadas nessas horas, contudo, é apenas questão de tempo e oportunidade para que tudo se resolva.
Beijos,
Ana Lúcia.
Ah as danças que a vida nos impõe e que nem sempre estamos preparados para dançar! Ah as aventuras cotidianas do viver, a música nem sempre esperada, o vestido azul que as vezes não condiz com o que estamos vivendo. a vida é isso menina! Situações! Vivencias! Sopros! Só nos resta viver! Um beijo doce.Feliz 2010!
Que texto lindo! Curto, simples e lindo! Encarando o vestido azul como uma metáfora, confesso que muitas vezes já me senti usando um desses! rs
Ka, fazia tempo que eu não tinha um tempinho pra passar por aqui.
E quando vim, dei de cara com esse texto maravilhoso!
Quantas vezes não nos sentimos assim, com o "vestido certo" na ocasião errada?
É sempre um prazer ler seus textos, que estão a cada dia melhores!
Saudades de você, menina!
Beijos!
Oi Karina,
Quem já não usou um "vestido azul"? Eu gosto muito de crônicas. Um abraço!
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