terça-feira, 26 de novembro de 2013

De passagem

Todas as mesas enfileiradas, repletas de papéis, revistas e bichinhos coloridos em cima dos monitores de computador. Tudo tão desorganizado e espalhado, mas demonstrando o estilo das pessoas que ocupavam cada uma das mesas. 

A sala estava clara, mas Ana, sentada à beirada de uma das mesas, só via névoas. Ali não era, definitivamente, o seu lugar. Só estava de passagem, como nuvem, como vento. Vendo tudo e não se prendendo a nada. Apenas observando e cumprindo obrigações.

Em cima do monitor, o pequeno vaso de flores murchas que um dia foram roxas completava a falta de vida dos sinistros manequins abandonados em frente à janela, uma vitrine onde não seriam vistos por ninguém. Posicionados cara a cara em pose sensual, deixavam eminente uma cena de beijo que nunca se realizaria. O tempo triste lá fora denotava que, por mais que fosse verão, o sol não estava presente, o que deixava a sala,  as conversas e as pessoas muito mais frias do que já eram. 

Os olhos de Ana não saíam do calendário, do relógio, dessas coisas que medem o tempo.

O tempo, sempre de passagem. Assim como ela.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Faltando peças

Sempre gostei de montar aqueles quebra-cabeças gigantes, de mil peças. Não é fácil e nem rápido montá-los, a não ser que você já conheça bem as peças e onde elas se encaixam. Com o passar dos anos, fui pegando o jeito, acertando o lugar de algumas peças e errando outras. Como na vida. Com a diferença de que nos quebra-cabeças eu sempre perdi algumas peças, enquanto na vida ainda não achei outras, o que denota incompletude do mesmo jeito.   

Em alguns setores, como o afetivo, já me encontrei, mas há outros em que ainda faltam as peças. Algumas até se encaixam, mas ainda não têm as arestas no mesmo formato do espaço a ser preenchido. É como tentar vestir uma roupa apertada: você sabe que não serve e acaba se machucando ao tentar ajustá-la em seu corpo. É por isso que existem os provadores. Vestiu e não serviu? Pega outro tamanho! O problema é que na vida as araras de roupas não estão fáceis e à disposição para escolher sem pressa e a tendência é levar algumas saias justas.

Tô vestindo algumas dessas no momento, até achar as que me sirvam.
 
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