quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Mau contato

De manhã, o chuveiro não esquenta, o que a faz lembrar do fone de ouvido que funciona de um lado só e da tecla do celular que não responde mais ao toque. Computador travado é rotina, ponteiros do relógio de pulso param e depois voltam a andar.

E os contatos pessoais, também tão rápidos e temporários, logo não funcionam mais. Assim como as promessas.

Há muito tempo as coisas não estavam funcionando por completo, mas aos poucos, tão fugaz e sem estabilidade.

Depois descobriu que não eram as coisas, nem os aparelhos, tampouco as tomadas. Era a vida que estava dando mau contato.

(Imagem retirada do Google)

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Acaso

- Posso te fazer uma pergunta?

- Pode

- Você ama as coisas que tem, ou tenta entender as coisas que tem?

- Por que tá me perguntando isso?

- Responde!

- Bom, eu tento entender né, mas nem sempre consigo.

- Você tá errada.

- Hã?

- Tá errada! Por que acha que não consegue entender?

- Não sei, ué.

- Veja eu: amo as coisas que tenho, sem me questionar o porquê delas ocorrerem, nem tentar entendê-las. Entender eu deixo para os iludidos.

- (...)

- Eu sei que a gente não vai se ver mais, nunca mais, a não ser que a gente se encontre novamente por acaso, sem querer, como aconteceu hoje. Tchau.


(Ele sempre teve a mania de aparecer do nada e dizer tudo, respondendo em voz alta as perguntas que meus pensamentos faziam em silêncio. Melhor nem tentar entender.)


(imagem retirada do Google)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre o tapete voador

As luzes coloridas giravam, giravam, giravam vagarosamente na noite. Mas ela, parada lá embaixo, olhava sem muito interesse. Já havia ido lá. A roda gigante não exercia mais tanta atração. Nem o trem-fantasma, onde momentos antes o primo medroso gritara assim que surgiu a aranha de plástico na escuridão. Ela queria novas sensações, mais perigosas, sem se dar conta de que o maior perigo era não ter medo.

Com seis anos de idade já enxergava o extraordinário em coisas comuns e por isso, dentre tantos brinquedos mecanizados e modernos, interessou-se justamente por aquele que estava parado. Era uma montanha enorme, cheia de ondulações compostas por escorregadores listrados em cores vivas e diversas. Um arco-íris na noite. Sobre ele, pessoas deslizavam sentadas em um tapete. O fascínio foi tanto que ela, quando percebeu, já estava no topo do tobogã, ignorando os avisos da mãe para tomar cuidado.

Afobadamente sentou-se sobre o tapete marrom e pediu para o primo empurrar. Mas ele deve ter entendido algo como “arremessar”, e prontamente aplicou nas costas da menina um impulso de canhão. Em vez de escorregar, ela foi lançada ao ar como Aladim sobre o tapete voador. Pegou tanta velocidade que logo se viu sem o acessório mágico, que escapou debaixo dela e voou em outra direção.

As cores do arco-íris mesclaram-se num giro louco, de ponta-cabeça e invertidas, sumindo a reaparecendo, uma aquarela sem sentido nem controle misturando-se ao céu noturno que ora ficava em cima, ora embaixo, o vento fresco acariciando seu rosto e logo em seguida tacos de madeira batendo nele com força. As luzes do parque giravam sem controle e pequenos gritos ecoavam no ar. Foi tudo o que viu e sentiu enquanto caía sobre o tobogã e chocava-se sucessivamente com suas ondulações decrescentes.

Chegou ao final do arco-íris deitada, escorregando com a cara no chão até parar. Foi recepcionada por rostos desesperados e nenhum pote de ouro. Ouro mesmo eram os conselhos da mãe, que ela nunca ouvia.

(imagem retirada do Google)

sábado, 12 de março de 2011

Luminosidade

Eles se queriam, mas ainda não sabiam. Ela talvez já soubesse, mas e se ele não a quisesse? O fato é que estavam lá, no banco traseiro do carro, que se deslocava pela avenida movimentada. Era pouco mais de seis da tarde e o trânsito era só caos. Não trocavam palavra, mas os gestos diziam muito. E os olhares dela denunciavam. Queria congelar o tempo, queria que o trânsito empacasse, que a hora não passasse, que não chegassem e ficassem lá, ficassem lá. No silêncio ela podia observar o olhar dele, tão calmo, tão sereno. O tipo de olhar que ela não tinha. Talvez por isso o admirasse mais. Uma ambulância passou acelerada do outro lado da rua, desviando a atenção de todos. Menos a dela, que continuava centrada naqueles olhos. E foi a única que viu as luzes vermelhas da sirene refletirem no olhar dele, dando um brilho incomum a olhos tão comuns. Mas era um brilho externo, vindo de fora dos olhos do homem. O brilho interno existia no olhar dela, apenas.

sábado, 29 de janeiro de 2011

O som do silêncio

Terça passada foi aniversário de São Paulo e eu, como amante da vida agitada e corrida, não poderia morar em lugar melhor. Ao mesmo tempo, me questiono: será que sou desse jeito mesmo ou fiquei assim por causa de cidade? Afinal, desde que nasci convivo com baderna e barulho o dia inteiro: é trânsito, chuva, elevador, gente falando, televisão ligada, porta batendo, celular tocando, vizinho martelando a parede, tudo isso somado ao fato de eu ouvir música o tempo todo. Já acostumei. Eu e São Paulo vivemos no mesmo ritmo, pulsando na mesma vibração intensa e acelerada. Não há como dissociar a cidade de mim.

Engraçado é que dia desses me dei conta de que, em meio a tudo isso, algo valiosíssimo se perdeu. Não foi uma perda material, mas abstrata, e por isso mais intensa.

Uma noite estava na faculdade e entrei na biblioteca pra estudar pruma prova. Depois de um tempo, notei que algo estava errado, fora do comum, como se incomodasse. Então percebi: era o silêncio. Não apenas a ausência de barulho, mas o silêncio verdadeiro, profundo, ou como diz um trecho do
último volume de Harry Potter, “o tipo de silêncio que pressiona os tímpanos, que parece ser muito grande para ser contido pelas paredes”.

Há muito tempo, desde o
apagão em 2009, eu não “ouvia” o silêncio desse jeito. Estranhei, mas me fez um bem que você não tem noção e até parei de estudar pra ficar escutando o nada. Aquele vazio opressor de repente me preencheu, senti uma paz que não sentia há séculos. Eu nem lembrava mais como era isso, o silêncio absoluto. Tão estranho, tão fora da realidade caótica de São Paulo e da minha vida ligada no 220v! E então eu entendi, finalmente entendi o que Clarice Lispector sempre diz em suas obras, quando se refere ao silêncio: “O silêncio não é o vazio, é a plenitude.(...) Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e de adorá-lo sem palavras ”.
 
É isso.
O silêncio está entre as espécies em extinção e infelizmente a gente aprende a viver sem ele. Mas tenho descoberto lugares onde ele é criado em cativeiro. Por mais São Paulo que seja aqui, ainda há bibliotecas, jardins e outros cantos silenciosos. Não precisa procurar. Você simplesmente acha.

Acho irônico que, mesmo vivendo em ritmo tão acelerado, minha música favorita seja Enjoy the silence. A vida também tem suas entrelinhas.

(Imagem retirada do Google)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Achados e Perdidos


Faz pouco tempo que perdi o guarda-chuva. É, de novo. Já virou rotina isso. Tô quase acreditando naquela história de que existe um universo paralelo onde os guarda-chuvas vão parar, porque eles SIMPLESMENTE SOMEM! 

Tá, eu sei. A verdade é que eu perco tudo. Tudo MESMO!

Não é à toa que o nome do meu blog é Achados e Perdidos. Sempre fui frequentadora desses lugares. Quando criança, na escola, ficava mexendo na tarraxa do brinco, ela caía no chão e sumia. Perdia borracha, apontador, brinquedo, esquecia livro e caderno na escola. Perdia até o lanche no recreio. Fiquei mais velha e nada mudou: na época do cursinho, a quantidade de chaveiros que perdi é incontável. Perdi dois relógios de pulso no transporte público lotado em horário de rush. Perdi bilhete único três vezes e até uma folha de lição que, após uma rajada de vento, voou da minha mão e foi parar nos trilhos do metrô. 

Já perdi dinheiro, anel, cartinha que ganhei no aniversário, gloss labial, touca de natação, tiara de cabelo. E brincos? Perdi as contas de quantos eu já perdi! Sempre sobra um na orelha. Recentemente, perdi todos os meus arquivos de computador

Já perdi a hora em inúmeras manhãs, perdi o ônibus e cheguei atrasada, me perdi no meio do caminho e tive que voltar. Ao longo dos anos, perdi o contato com várias pessoas, perdi a paciência com gente folgada, perdi a vergonha na cara, perdi o medo de errar. Perdi a educação quando necessário. Perdi a noção das coisas várias vezes. Perdi namorado, perdi a cabeça por amor e acabei perdendo o sono. Perdi o interesse quando demoraram demais. Perdi festas legais e algumas oportunidades. Perdi pessoas queridas e tempo com preocupações banais. Perdi a calma e o controle.

Também perdi a confiança e jamais recuperei. 

Sem falar das coisas que QUASE perdi. Como a redação que deixei cair na rua onde moro e não vi, carros passaram por cima e, mais tarde, meu irmão encontrou e me trouxe (cheia de marcas de pneu). Como os óculos que caíram da bolsa no cinema e só fui perceber dias depois, míope na sala de aula. Voltei ao cinema e lá estavam eles, no setor de Achados e Perdidos, com uma etiqueta e um número na caixa, parece até que iam rifar. Também, no cinema, por pouco não perco meus livros do curso de inglês, que esqueci no guichê enquanto comprava a entrada.

Ano passado deixei cair meu celular dentro dum táxi e quase perdi. Liguei pro meu número e o motorista atendeu, disse que eu havia deixado o celular cair no banco do carro. Dias depois ele me devolveu. UUFA! O mundo não perdeu as pessoas honestas! E estranho, a honestidade de uns é revelada graças à desatenção de outros. Tá vendo, nesse ponto a falta de atenção é boa! Ufa, me sinto menos culpada agora! Hahaha!

Enfim, não deixe nada na minha mão, porque já sabe né. Fica a dica.

Mas calma, eu já achei muita coisa também! Dinheiro na rua, palito de sorvete premiado, amizades verdadeiras... Até tempo pra escrever isso aqui eu achei! Mas perdi o fio da meada e não sei como terminar.

Tava aqui, juro! Deve ter caído do bolso enquanto eu escrevia.

domingo, 2 de janeiro de 2011

2011

Então, o ano começa! =)

Sei que estou ausente, tudo culpa da minha mania de querer abraçar o mundo e fazer mil coisas ao mesmo tempo, o que, inevitavelmente, faz com que muitas outras sejam deixadas de lado. Mas juro que tentarei postar com mais frequência, juro mesmo! Vontade não me falta, o que me falta é tempo.

Mas, irônico: quando tenho tempo sobrando, sinto tédio. Os primeiros dias do ano são tãão monótonos, parados, um marasmo só, e por ser hoje domingo isso se intensifica ad infinitum. Como diz uma frase que vi hoje no Twitter, "domingo é tédio em latim". E é mesmo.

Que pra vocês 2011 seja um ano DAQUELES, inesquecíveis e cheios de surpresas boas!

Mais ousadia, menos preocupação. E uma maior dose de subjetividade, porque ser objetivo demais e fazer sentido o tempo todo às vezes (me) cansa.

Bom, é isso. Um ótemo 2011 pra vocês e, assim que puder, retomo meus posts toscos e minhas visitas aos blogs que gosto!


(imagem retirada do Google)
 
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