sábado, 12 de março de 2011

Luminosidade

Eles se queriam, mas ainda não sabiam. Ela talvez já soubesse, mas e se ele não a quisesse? O fato é que estavam lá, no banco traseiro do carro, que se deslocava pela avenida movimentada. Era pouco mais de seis da tarde e o trânsito era só caos. Não trocavam palavra, mas os gestos diziam muito. E os olhares dela denunciavam. Queria congelar o tempo, queria que o trânsito empacasse, que a hora não passasse, que não chegassem e ficassem lá, ficassem lá. No silêncio ela podia observar o olhar dele, tão calmo, tão sereno. O tipo de olhar que ela não tinha. Talvez por isso o admirasse mais. Uma ambulância passou acelerada do outro lado da rua, desviando a atenção de todos. Menos a dela, que continuava centrada naqueles olhos. E foi a única que viu as luzes vermelhas da sirene refletirem no olhar dele, dando um brilho incomum a olhos tão comuns. Mas era um brilho externo, vindo de fora dos olhos do homem. O brilho interno existia no olhar dela, apenas.
 
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