quarta-feira, 13 de maio de 2009

Coluna de Ferro

25 parafusos, duas hastes de titânio e uma cicatriz tamanho família: resultado de uma cirurgia pra corrigir uma escoliose que eu tinha deeesde os 14 anos. Para uma pessoa extremamente (e eleve isso ao cubo) medrosa como eu, operar era uma opção totalmente fora de cogitação. Mas com o tempo a gente vai aprendendo que certas coisas são necessárias, mesmo que a gente não queira, e que às vezes a coisa mais difícil e a certa são a mesma. Por isso decidi operar.

Em meio a muitos confetes e serpentinas (era carnaval, dia 20 de fevereiro), lá fui eu pro hospital. Certeza q foi o carnaval mais bizarro que já tive. Mas muy interessante, em matéria de aprendizado. No dia seguinte, depois de 8 horas de cirurgia, eu era uma nova pessoa com uma nova coluna. Acordei na UTI do Nove de Julho com zilhões de aparelhos conectados em mim, falando um monte de merda por causa do efeito da anestesia (acredite: eu pedi guaraná depois que acordei!) e vendo desfiles de escola de samba na tevê contra a minha vontade (o controle remoto estava em lugar inalcançável).

Quarto 1016. Da cama, eu podia ver pela janela diversos helicópteros pousando no topo dos prédios ao redor, passatempo muito divertido pra quem não pode se mexer muito. Remédios de hora em hora, visitas todo dia, rotina típica de hospital. Mas as noites eram difíceis ali, já que eu NUNCA conseguia dormir! Tanto pelo incômodo causado pelos novos “apetrechos” na minha coluna, como também devido aos milhões de pensamentos que iam e vinham à minha mente.

Era uma vida nova sim. Com muitas dores, às vezes insuportáveis a ponto de eu não conseguir ficar mais de 10 segundos em pé ou sentada. Mas com o tempo foi melhorado e eu descobri que a gente consegue suportar mais coisas do que imagina e é muito mais forte do que pensa. Aprendi muita coisa nos 12 dias em que fiquei internada. Passei a depender das pessoas (inclusive minha família, que estava sempre presente) pra TUDO, sendo que eu nunca gostei de depender dos outros pra nada. Aprendi a sentar e a andar de novo, e no dia em que fiz isso não tinha equilíbrio algum sobre meu corpo e mesmo assim achei maravilhoso! Passei a dar valor às coisas mais simples possíveis, às quais muitas vezes não damos a devida importância por fazê-las de modo tão natural e automático no dia-a-dia. E o mais importante: aprendi a ter paciência, coisa que nunca tive.

Enfim, foi como se eu tivesse renascido. Na quarta-feira, dia 4 de março, tive alta e saí do hospital mais alta (sim, eu cresci 6 centímetros depois da cirurgia, porque os médicos esticaram minha coluna de volta ao lugar). Como sentia muitas dores pra andar, voltei pra casa de ambulância (o que foi uma experiência única!), para a felicidade geral dos fofoqueiros do meu bairro que logo saíram às janelas para ver o que acontecia, hahahaha!


E assim virei uma “coluna de ferro”. Perdoem o texto gigantesco, mas a importância deste episódio pra mim é de igual tamanho, por isso eu tinha que relatá-lo aqui. Ganhei uma experiência de vida única e milhares de histórias de hospital pra contar. Além, claro, de uma nova vida.

Dois meses e meio de operada e muito feliz, voltando aos poucos à vida normal. Acho que isso basta. =)
 
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