sábado, 12 de janeiro de 2013

O tal do timing


- E por que não agora?

(...)

- Eu sinto que o nosso momento passou, só isso.

(...)

- Meu timing não é muito bom, né?

Não. E justamente por este motivo é que a relação entre Dexter e Emma, casal protagonista do livro Um Dia, de David Nicholls, é tão conturbada. Eles se gostam e sabem disso, mas não estão juntos porque não têm o mesmo timing. Têm um sentimento em comum que é despertado em momentos diferentes. Vivem a chance e o momento de ficar juntos e não percebem, não aproveitam.

Deixar passar o instante certo pode ser erro fatal. Se demorar um minuto, talvez o perca. É como esperar o dia clarear para acender a luz ou tomar o sorvete depois que derreteu. A história por trás do “você demorou tanto que agora eu nem quero mais!” e daquele momento em que a gente se pega, após uma discussão, pensando “aai, eu deveria ter dito isso! Por que não falei?”. Porque perdeu o timing da coisa. Perdeu, playboy.

Quem dera ser possível ajustar o dito-cujo como um ponteiro de relógio e sem horário de verão para confundir. Mas o timing é tão abstrato quanto um quadro de Kandinsky. É questão de percepção, mesmo. De pegar no ar, antes que se vá.

Pensando por esse lado, seria bom se tivéssemos a vida de Bill Murray no filme Feitiço do Tempo: acordar e o dia ser exatamente igual ao anterior, com os mesmo acontecimentos se repetindo nos mínimos detalhes. Chega uma hora em que, de tanto vivenciar os mesmos momentos, ele sabe a hora certa de agir e a coisa certa a dizer.

Deixar passar o momento é como perder o ônibus, só que pior: não dá pra ficar parado no mesmo ponto e é bem capaz que não passe outro. Pelo menos, não para o mesmo destino.

(texto meu publicado na edição 31 da Revista Offline)
 
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