domingo, 15 de dezembro de 2013

Um alento

Vejo as pessoas lááá embaixo, tão distantes e pequenas. Formigas urbanas caminhando em filas, voltando do trabalho que realizam automaticamente sem questionar. O amontoado de prédios ao longe mostra que não há mais espaço pra respirar. O horizonte também é delimitado pelos contornos da serra, sinuosos como se tivessem sido desenhados pela mão de uma criança. Congestionado, o trânsito contrasta com a livre passagem das nuvens no céu. Mas há dias em que ambos trabalham juntos, carregados, nuvens de chuva produzindo um mar de carros.

A fumaça escura aparece de repente, deixando turva a visão da realidade que ficou por trás. Há fogo em algum lugar e o cinza da fumaça se mistura aos prédios de concreto, confundindo-se com a poluição.

A lona de circo ao longe deixa a sensação de que nem tudo é ferro e fogo na cidade. Mas onde estão os palhaços? 

Há vida no trator que parece dançar ao abaixar e levantar suas pás, ao som de motores frenéticos e do trem. Mas quem dança de verdade são as sacolas plásticas, ao sabor do vento.

Até no caos da vida urbana encontra-se poesia cotidiana, um alento.





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