Ela
parou em frente à porta de vidro e tentou abrir. Nada. Empurrou com mais força
e descobriu que estava trancada. Olhou as pessoas lá dentro - como tinham
entrado? - comendo e conversando alegremente, sem notar sua presença em
frente à porta. Só foi vista por uma senhora bem velhinha (em contraste com a
loja tinindo de nova, recém-inaugurada) que a observava lá de dentro sem dar
muita importância, como se visse apenas mais um elemento monótono da
paisagem.
Então,
para chamar a atenção, começou a bater na porta e a acenar freneticamente.
Ninguém viu. O vidro tornava a realidade do outro lado anos-luz distante do
agora. Todos pareciam viver em uma dimensão paralela, como um filme mudo
rolando do outro lado do vidro, uma festa sem som da qual ela não participava.
Passaram mil coisas pela sua cabeça.
Tinha chegado atrasada, obviamente, e ficou trancada por fora. Ninguém queria
saber de mais gente lá dentro. Ou aquelas pessoas eram todas convidadas VIP. A
porta continuava trancada, assim como a sua percepção da realidade. Depois de
muito tempo e esforço para se fazer notada e quase desistindo, se deu conta de
que havia outra porta, muito maior, na lateral do recinto. Estava aberta, sem impedimentos, o que
não havia notado porque passou muito tempo olhando para a outra porta,
trancada. Embora o vidro fosse transparente, sua percepção
continuava turva.
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