Eu lembro da minha caixa de brinquedos: gigante, cabia de tudo lá. Inclusive eu mesma, ao procurar meus brinquedos, escorregava e caía lá dentro diversas vezes, amassando tudo. E eu entrava em um mundo mágico. Era lá que eu encontrava a Bubu, minha primeira boneca, que era de pano e usava vestido amarelo. Também encontrava a Menina-Flor, que ao mesmo tempo era uma boneca e virava um vaso de flor. Minha coleção interminável de panelinhas de plástico, pratinhos, talheres, minhas comidinhas de mentira, com as quais eu brincava de restaurante, meu Topo Giggio, Moranguinho, etc. Eu ia tirando tudo lá de dentro e passava o dia criando histórias e mundos de fantasia. À noite eu jogava tudo na caixa de volta e ia dormir. Dividia a cama com minha coleção imensa de bichinhos de pelúcia, que ficavam empilhados e caíam em cima de mim a todo instante durante o sono. Eu nem ligava, achava engraçado.
Fui crescendo e passei a me interessar por Lego, quebra-cabeça, massinha de modelar e móveis de casinha. Eu montava casas tão legais que sonhava em morar nelas. Mas quem morava lá eram meus Playmobis. Herdei alguns dos meus irmãos mais velhos e outros eram meus mesmo. E eles foram os responsáveis pela época mais criativa da minha infância. Eu tinha uma coleção deles, todos tinham um nome, uma família e uma história. Iam à festa junina, ao circo e faziam viagens. E eu era absorvida por este mundo, lá eu era feliz e exercitava minha imaginação, sem preocupações ou problemas.
Até que fui sendo tirada desse mundo pouco a pouco. Tanto pela escola, que passou a exigir mais dedicação, como pelo concorrente dos brinquedos: o vídeo-game. Toda aquela tecnologia me fascinava e eu não dormia enquanto não conseguia zerar os jogos. eu não saía de frente da TV, mal me mexia e não criava mais histórias. Meus antigos brinquedos foram abandonados dentro da caixa, que agora eu mal abria. E lá ficaram. Pouco a pouco a quantidade deles foi diminiuindo, acompanhando meu interesse por eles e a caixa de brinquedos foi substituída por uma menor. Até que um dia sumiu. Entrei na adolescência. Os brinquedos restantes foram guardados no armário e minha infância também.
Ainda assim, continuei brincando de Barbie. Eu adorava vesti-las bem, arrumar o cabelo delas e criar histórias românticas com os Kens. Ao mesmo tempo em que tudo isso ia acontecendo na minha vida também. Com uma diferença: na minha vida havia responsailidades e deveres que começavam a me tomar todo o tempo, sem falar nas festas e viegans que eram muito mais divertidas do que qualquer brinquedo. E assim, de forma natural, a realidade substituiu a fantasia. Não por completo, é claro. Guardei oa brinquedos que mais me marcaram: a Bubu, minhas Barbies, alguns playmobis, meu Snoopy grande de pano e o Jiba Jabber (pra quem não lembra, um boneco com cabelo colorido e corpo de formiga, que fazia uns barulhos bizarros quando você o chacoalhava). Ao vê-los, sinto saudades, um aperto no coração, nostalgia.
Como diz o Luís Mauro, meu professor de Comunicação Comparada, a nostalgia é uma auto-paródia, à medida em que você vê um elemento antigo, mas ele não tem mais o mesmo sentido e não surte o mesmo efeito que tinha na época. É verdade. Brinquedos hoje em dia são uma coisa fora do contexto pra mim. Mas escrever esse texto foi ótimo. Me trouxe à memória brinquedos que eu nem lembrava mais e uma época maravilhosa que ficou pra trás. E é bom que seja bem guardada, seja numa caixa de brinquedos, na memória ou no coração. Porque a vida que vem depois disso não é brincadeira.
Tema sugerido pelo blog Vou de Coletivo!
10 perdidos por aqui:
Otimo texto, uma viagem pelo tempo, do passado até hoje e as modificações que foram acontecendo em você com relação aos seus brinquedos.
Não vai posta-lo no Vou de coletivo?
beijos
Vc fez uma verdadeira viagem ao passado. Com certeza cada frase aqui escrita vc visualizava seu brinquedo predileto.
Quanta saudade né!!
Bj
Oi querida,
Que gostoso que é brincar, não?! A infância não volta mesmo e doces são as recordações dela... Que bom!!
Pois é Karina, concordo com você, "porque a vida que vem depois disso não é brincadeira." Finalizou bem...
Beijos e, não sei se viu, estou no Coletivo também,
Ana Lúcia.
Confesso que não perdi nada aqui,e sim encontrei! Este belo texto.bjs
Karina
Que texto legal a medida que ia lendo, ia lembrando dos meus brinquedos também.
a gente cresce e vai abandonando os brinquedos o que é natural pois como vc diz o que vem pela frente não é brincadeira.
beijo grande !!
aiii que lindo amiga, senti uma total nostalgia... o zé augusto tbm comentou com a gnt sobre isso numa das últimas aulas, estamos falando sobre história oral, memória!
ameeei nossa noite de apagão, rs!
estava aqui conversando com a mari... hahaha, já sabe quem está na minha mente, né?
até mais tarde amiga!
beeeijo!
Karina...,
Adorei todos os seus comentários... Você é um doce mesmo!! Obrigada por ter me alegrado...
Beijos querida e bom final de semana,
Ana Lúcia.
Época boa a gente guarda pra sempre...é tão bom ter a chance de criar nossos próprios mundos...creio eu que é a partir desses mundos de fantasia que o o nosso mundo real começa a tomar forma...uma criança que trata mal seus brinquedos,irá com certeza se tornar um adulto que trata mal seus semelhantes.Pq é na infância que a gente começa a moldar o que seremos mais tarde! Um beijo!
Uma salma de palmas pelo texto.
E tens toda razão, assim como teu professor.
É incrível como, inevitavelmente, tudo é trocado, substituído...
E as melhores coisas, sem que se perceba, sempre ficam para trás.
Um grande beijo!
Oi Karina!
Ahh, fico saudosista quando lembro da minha infância... Meus brinquedos, as casinhas que fazia... Tão bom! Eu acho que fui a criança mais realista de que aquela seria uma época maravilhosa, pois enquanto todos pensavam em crescer logo e ser adulto, se eu pudesse teria permanecido na infância... Mas as responsabilidades aparecem e o tempo não pára pra ninguém, ne?! =)
Xerus
=***
Postar um comentário