Por outro lado, quem usa esse transporte em São Paulo sabe A confusão que é, principalmente em horários de pico, nos quais você se sente um boi, ao ser arrastado pela multidão (que mais parece uma manada enfurecida).
Em meio a essa loucura toda, uma noite, voltando da faculdade, eu subia as escadas do metrô quando me deparei com alguns escritos em letra branca, numa parede. Era um poema! Aquilo quebrou minha rotina, achei interessante e resolvi ler. Mas, devido ao empurra-empurra e fluxo intenso de pessoas ao meu redor, era impossível parar e eu consegui ler apenas uma linha. Dizia assim: “Eu não sou eu nem sou o outro.”
Interessante. Decorei a frase e fiquei entretida com ela durante bom tempo. Pensava: “Caramba, se não sou eu e nem o outro, quem sou eu então?”. No dia seguinte, aguardei ansiosamente a volta pra casa pra saber quem era “eu”. Consegui ler mais uma linha: “Sou qualquer coisa de intermédio”. E assim fui, memorizando uma linha por dia, até completar o poema. Era do Mário de Sá Carneiro (não sei o título. Pesquisei e encontrei tanto como “Poema 7” como “O Outro”):
Ler um poema no metrô, durante a correria da rotina, me desligou do stress. Parei de pensar nos problemas, nos pepinos a resolver, no cansaço, pra tentar interpretar essas linhas tão enigmáticas. Quem seria o “outro” no poema? Além disso, passei a conhecer mais sobre Mário de Sá Carneiro e ainda descobri que esse poema foi transformado em música, pela Adriana Calcanhoto (caso tenham oportunidade, ouçam “O Outro”).
Em meu trajeto diário, os poemas continuam a me perseguir. Na estação em que desço pra ir ao trabalho, há outro deles. “O Morcego”, de Augusto dos Anjos:
Esse eu consegui ler com mais calma, já que está exposto em um lugar mais amplo. Depois de um tempo, descobri que estes poemas são parte do projeto "Poesia no Metrô" (iniciado em São Paulo em outubro de 2009), cujo objetivo é estimular o gosto pela leitura. Parabéns aos idealizadores do projeto. Graças a ele fui tirada do automatismo da rotina e levada a outros mundos que não este. Por istantes consegui um fugere urbem em meio ao caos.
Confesso que até pra tirar foto dos poemas foi difícil, devido aos pedidos de "Dá licença!" e pessoas por todos os lados querendo passar. Isso porque não repararam na parede ao lado. Se tivessem reparado, teriam também parado. E como precisamos dessa pausa, desse refúgio que só a literatura nos porporciona! Não só a literatura, mas a cultura em geral. Que precisa ser incentivada através de ações como esta.
O cotidiano é texto corrido, feito em prosa, mas precisamos dos pequenos momentos que são poesia. São eles que dão rima à nossa vida. Afinal, a melhor coisa é encontar Mário de Sá Carneiro, Augusto dos Anjos e outros grandes poetas enquanto anda pela cidade.
6 perdidos por aqui:
Olá bom dia Karina,
hj as pessoas não param nem pra comer, nessa louca correria que o tempo impõe.Parabéns para os idealizadores do projeto, mas vc tbm está de parabéns que por um instante parou pra ver a vida por outro angulo. se as pessoas se dessem tempo pra poesia,e quando falo poesia é em todos os sentidos, não haveria tanta coisa ruin acontecendo
beijo grande e boa semana !!
Esta sua possibilidade de refletir sobre o seu cotidiano é rica e interessante. Gosto muito de seus escritos e veja que isso é uma qualidade sua, a maioria passa reto com o automatismo ligado, infelizmente, pois a vida assim fica mais dura e dificil.
Beijos
Muito legal =)
É bom encontrar meios de fuga da rotina, do comum, as vezes da vida...
Acostumamos a ser acomodados, seguir sempre o mesmo caminho, cruzar as mesmas ruas e avenidas, ir ao submundo e cruzar outros mais lá em cima... Até que acorda, a pessoa olha ou ouve algo que a aborda e enche de alegria, muda o pensamento...
Encontrou-te a poesia no Metro...
E cumpriu o objetivo de alguns idealizadores desse tal projeto, é para pessoas como você que existe um mundo.
- De momentos como esse, recordo-me apenas do meu momento passarinho, onde em qualquer lugar da cidade eu conseguia ouvir os pios... buscava filhotes caidos dos ninhos e os criava como família... Pia...
Beijo !
Oi Karina,
Que gostoso...!!
Que bom que encontrou algo valioso para enriquecer a sua correria do dia a dia...
Beijos,
Ana Lúcia.
Oi Karina,
Já sou fã nº1 desse blog e sua fã também,adoro tudo que você escreve. Essa crônica que poderia ser dramática ficou leve, suave e poética e que cabeça boa você tem para uma pessoa da sua idade!!!Mais uma vez parabéns e você só observou as poesias porque você tem sensibilidade! Um abraço!
Oi Karina. Saudade dos seus escritos.Sempre tão diretos e verdadeiros. Toda a vez que vou à Bh eu em deparo com essas poesias em ônibus, o projeto de lá consiste em pendurar poesias dentro de um ônibus, quem chega lê o poema, dando lugar à próxima pessoa que sentar ali tb ler. Salvador tb tem projetos assim, só que estampados do lado de fora dos ônibus,na parte de trás, como um outdoor. Acho que essas intervenções no cotidiano são sempre válidas, na medida em que sempre ão de atingir alguém que no meio da multidão desatenta tenha olhos para ver e coração para se enternecer. Como vc teve. Beijo!
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