Tive a oportunidade de ler diversos livros, entre eles, dois que me marcaram muito. Um, foi Hiroshima, de John Hersey, um clássico do jornalismo literário. O livro conta a história de seis sobreviventes da bomba de Hiroshima e tudo o que viveram logo após a explosão e também quarenta anos depois. É um livro muito comovente, não leia se não tiver o estômago forte. Todo mundo sabe o que foi a bomba de Hiroshima e suas conseqüências, mas ninguém tem a noção exata da intensidade do sofrimento das vítimas. As poucas que sobreviveram, não ficaram ilesas: sofreram até o fim de seus dias com efeitos causados pela radiação atômica, os quais continuam presentes nos genes dos filhos e netos dessas pessoas, causando deformações e graves problemas de saúde. Sem falar no trauma e nas condições desumanas que passaram. A vida delas foi alterada drasticamente para sempre.
Outro livro que li foi Anne Frank – Uma Biografia, da jornalista Melissa Müller. Não é o diário de Anne, esse eu já havia lido no ano passado. Me refiro à biografia mesmo, que fala sobre a infância de Anne, sua família e o tempo que ela passou no campo de concentração, ou seja, muita coisa além do diário. Sou fã de Anne, mesmo. Ela, com seus 14 anos de idade, tinha mais maturidade e inteligência do que muito adulto por aí, principalmente aqueles que tiraram sua vida (os nazistas). Acredito que a situação em que ela viveu contribuiu para que amadurecesse mais cedo. Mas me revolta seriamente saber que todos os seus sonhos e objetivos de vida foram mortos, juntamente com ela, num maldito campo de concentração. E quantos milhões de sonhos também não foram destruídos pela bomba de Hiroshima?
Os dois livros mostram o mesmo questionamento: como foi possível tantas pessoas serem coniventes com estes atos desumanos? Como o nazismo e o lançamento de bombas atômicas puderam ser realizados com sucesso? Todos sabiam que era um erro, que era assassinato, e mesmo assim os responsáveis não foram denunciados e muito menos impedidos de cometerem tais atrocidades. Simplesmente continuaram, e aqueles que assistiam a tudo isso se conformaram, sem nada fazer. Seria medo? Indiferença?
Boa parte da humanidade foi destruída pelos interesses insanos de poucos. E assim continua até hoje. O racismo, o sentimento de superioridade e o poder sobem à cabeça de uma minoria e são despejados em uma maioria inocente. Meus filhos, se vocês têm problemas na cabeça, vão se tratar e não descontem pra cima da humanidade, ok? Seres humanos não são cobaias e vidas não são descartáveis.
Ler estes livros me fez perceber que a guerra (seja ela qual for) não é apenas um problema gerado pelo contexto histórico e sócioeconômico. Acima de tudo, é um problema psicológico. Que persiste.
Caso tenham oportunidade, leiam. Hiroshima, Anne Frank – Uma Biografia e O Diário de Anne Frank são denúncias de uma realidade que muitos quiseram esconder – por ser insana.
“A história não se repete, disse Voltaire, mas o homem faz isso. O homem, com toda inteligência, é fraco e destruidor, e se deixa levar até perder seus ideais de vista. Então, ele começa – como se não fosse capaz de aprender – de novo. Não devemos deixar de ter esperança na capacidade de aprender do homem” (trecho extraído do livro “Anne Frank – Uma Biografia”, de Melissa Müller).