segunda-feira, 27 de abril de 2015

O tempo e o vento

Sou uma pessoa que vive descabelada. O fio do meu cabelo é muito fino e qualquer ventinho já o deixa todo revirado. No trajeto diário ao trabalho, pego uma saída de metrô onde há uma corrente de vento muito forte. Então já viu: chego no serviço com uma aparência digna de Elba Ramalho.

Num desses dias, subindo a escada rolante do metrô, peguei a famosa corrente de vento à la furacão e pensei: "Vento filho da...! já revirou todo o meu cabelo!". No mesmo instante, para ao meu lado na escada um garotinho nos seus cinco ou seis anos, e diz: "Aah que ventinho bom!!".

Na mesma hora parei e, vendo o contraste da coisa, pensei: "Cara! Como o mesmo degrau de uma escada pode conter pontos de vista tão diferentes?". O menino encarava tudo numa boa e os ventos estavam a favor dele. E acho que não à toa ele parou do meu lado: eu precisava perceber que, em algum momento da vida, desaprendi a gostar do sabor do vento. Onde perdi isso? No tempo. Na distância de mais de vinte anos que me separava daquele garotinho, a vida adulta me fez deixar de me levar pelo vento. E eu e o garoto subíamos a escada para a mesma direção. Fiquei preocupada que ele chegasse ao mesmo lugar que eu quando adulto.

Outro dia, no avião, eu lia uma crônica sobre um pedaço de isopor que voava ao sabor do vento até encontrar um garotinho que o transformou em barco e mudou todo o seu destino. O garoto foi embora sem se dar conta de que tinha mudado o destino do pedaço de isopor. Foi mais ou menos o que aconteceu aquele dia no metrô, mas ao contrário da crônica que li no livro, ao encontrar o garotinho, passei a voar mais ao sabor do vento.

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