sábado, 8 de dezembro de 2012

Sinais



Todo mundo que convive comigo sabe que sou meio maluca mística e acredito que a vida nos manda alguns sinais vez em quando. Por exemplo, se alguma coisa não vai dar certo, acontece outra antes pra impedir, coisa e tal. Se aparece uma nova oportunidade, tudo parece conspirar pra que ela aconteça. E por aí vai. Fico ligadona nessas coisas e outra ideia em que eu acredito bastante é que se você começa um novo ano com boas energias, é com elas que o ano vai andar. O contrário também vale.

Fiz toda essa introdução para chegar ao ponto principal: 2012 não foi dos melhores anos. E, engraçado é que, voltando os acontecimentos na memória, lembrei de um que me fez confirmar ainda mais minha teoria. No final do ano passado eu entrei no metrô praticamente vazio, sentei e então me dei conta de que havia um envelope branco bem na minha frente, no chão. Curiosa, peguei pra ver e tinha uns desenhos feitos à mão muito fofos, com os escritos “Feliz Natal” no topo. “Que bonitinho!” – pensei. Até abrir o envelope. Dentro, havia outros desenhos natalinos, dessa vez com um diabinho HORRENDO e os dizeres: “E um péssimo ano novo, seu otário! HAHAHA!”.

Não sei quem foi o louco que fez e deixou um negócio desses lá, na hora até achei engraçado e tals, mas depois fiquei com isso na cabeça, confesso que me assustei. Na época o fim de ano estava próximo mesmo e, coincidentemente, 2012 foi assim, digamos, uma merda. Com o perdão da palavra, mas foi mesmo. Tirando algumas coisas que foram ótimas, foi um ano super parado e na companhia de pessoas que só se aproximaram de mim para tirar algum proveito próprio e aparecer quando era conveniente.

O bom é que a gente abre o olho e segue aliviada por ter percebido essas coisas, mas não foi por falta de aviso. Aquele cartão de Natal anônimo era um sinal nítido de que o ano não seria lá aquelas maravilhas e eu tive vários outros sinais ao longo de 2012, deveria ter ficado atenta. Enfim. Só passei por aqui pra relatar isso, mesmo. Pode não fazer sentido ou parecer louco, mas a vida não é exatamente assim? 

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Fantasias

No ambiente escuro Vilma conseguia ver piratas, palhaços e mágicos. Todos passando ao seu lado naquela atmosfera onírica e estranha. Tão estranha que mal conseguia identificar os rostos que circulavam por ali, movendo-se com suas fantasias pelas portas de madeira em vai-e-vem, como as de saloon. Ela olhava por baixo de cartolas, máscaras e óculos escuros em vão, procurando-o sem sucesso. Era certo que o homem misterioso viria, só não sabia quando.

As horas avançavam e ela dançou, beijou e bebeu, sem sombra do que procurava ver. Mesmo com aquele mundaréu de gente, a festa parecia vazia sem ele. A música não parava e pessoas fantasiadas escorregavam e caíam nos degraus da escada que vinha lá de cima. Não ouvia barulhos nem conversas, apenas via cenas, como um filme antigo e mudo rodando à sua frente. Seu vestido branco iluminava o caminho e ela olhava para os lados a todo instante. Lá pelas tantas da madrugada, olhou para a esquerda e disse:

- Achei!

Era o rosto perfeito de cabelos castanho-claros surgindo na escuridão, iluminado pelas luzes coloridas que se alternavam na pista de dança. Sua mente tocou always something there to remind me, com todos aqueles sinos, mas não era essa a música ambiente. Ele estava sem fantasia, vestido como no cotidiano. “Comé que alguém vem sem fantasia numa festa à fantasia?”. Mistério.

Ele veio cumprimentá-la e Vilma ficou nas nuvens, sem dar bola para o fato de que apenas ela tinha fantasias. Ele não. Mas o cara possuía muitas máscaras. E isso ela só veio a saber depois.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Instabilidade


A bagunça dentro da bolsa refletia os pensamentos na cabeça. Tudo jogado, misturado e perdido num espaço apertado, que ia ficando ainda menor conforme os objetos eram tirados da gaveta e colocados ali. Blocos de anotação, enfeites de mesa, pacote de bolacha. Uma coisa não tinha conexão com a outra e nada mais pertencia àquela sala.

Guardou os pensamentos na bolsa, os objetos na cabeça e saiu dali, lidando com o inesperado, rumo ao desconhecido. Despediu-se do prédio tão conhecido, que agora não passava de passado.

O tempo instável lá fora condizia com a sua vida nos últimos tempos. Os livros pesavam nos braços, os pingos de chuva tornavam o tempo ainda mais frio.

- Estabilidade não tem preço nessa vida. 

Foi a frase que ouviu enquanto sentia-se andar sobre uma gangorra.


quinta-feira, 19 de abril de 2012

Dois mil e vinte e dois

Mês passado fui tomar vacina contra o tétano, aquela que se toma a cada dez anos. Era 7 de março e, ao sair do posto de saúde, dei uma olhada na carteira de vacinação e deparei-me com a seguinte data da próxima vacina: 7/03/2022. DOIS MIL E VINTE E DOIS!

Cara! Pensar nisso me deixou bem louca, afinal, se em um ano muda muita coisa na vida, imagine em dez! E, se o mundo não acabar até lá e eu estiver viva, que diabos estarei fazendo em 2022? Estarei eu casada? Solteira? Com filhos? Sem? Trabalhando? Estudando? Morando aqui? Lá? E isso? E aquilo?

Pensar na vida daqui a dez anos é muito mais assustador do que se imagina. Fechei a carteira e guardei na bolsa. Melhor deixar o futuro no lugar dele.

Tô vacinada contra o tétano. Contra devaneios e divagações, não.

terça-feira, 13 de março de 2012

Sem razão

Não quero mais racionalizar situações, nem pensar sentimentos. Chega de querer classificar tudo dentro do certo e do errado. Quando o certo não te faz feliz no momento e o errado te ensina muita coisa é que você entende o que eu quero dizer. 
 
Você diz “no lugar de fulano, eu faria isso”, até descobrir que NÃO, não faria! Pode ter passado a vida inteira com opinião formada sobre a situação de fulano, mas só quando passa por ela é que consegue perceber que as atitudes dependem dos sentimentos e ideias que surgem no momento. E aí, meu filho, na prática a teoria é outra.
Tô aprendendo que a vida não é uma ciência exata onde você pega seus sentimentos e atitudes e encaixa dentro de fórmulas matemáticas que os expliquem para que façam sentido. Não precisam fazer. E geralmente não fazem. Não precisa entender por que agiu assim e não assado, nem por que o fulano é como é ou fez o que fez. Já foi, não dá pra voltar e alterar. E aposto que, mesmo se pudesse agir diferente, você ainda se questionaria por que agiu assim. Você, não. Eu.

Eu com minha mania de pegar o abstrato e querer torná-lo nítido, tentando entender a razão de tudo. Não dá certo, vai por mim. Tentar entender é passar por cima de tudo o que há de inexplicável e incoerente por trás das situações. E, muitas vezes, a gente precisa do inexplicável e do incoerente pra ser feliz.

Num mundo repleto de relatividades, nuances e variações, não dá pra ficar num ponto de ônibus pensando por que isso, por que aquilo, como eu fiz antes de vir pra cá escrever esse post. Eu só não quero mais ter de me explicar (pra mim mesma).

"Apenas uma observação, meu amigo: as coisas, neste mundo, raramente se resumem no esquema do preto-e-branco, nas alternativas claramente definidas. Os sentimentos e as maneiras de agir são tão variáveis  quanto as gradações entre um nariz aquilino e um nariz chato." (Werther, de Goethe).
 
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