segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sobre o tapete voador

As luzes coloridas giravam, giravam, giravam vagarosamente na noite. Mas ela, parada lá embaixo, olhava sem muito interesse. Já havia ido lá. A roda gigante não exercia mais tanta atração. Nem o trem-fantasma, onde momentos antes o primo medroso gritara assim que surgiu a aranha de plástico na escuridão. Ela queria novas sensações, mais perigosas, sem se dar conta de que o maior perigo era não ter medo.

Com seis anos de idade já enxergava o extraordinário em coisas comuns e por isso, dentre tantos brinquedos mecanizados e modernos, interessou-se justamente por aquele que estava parado. Era uma montanha enorme, cheia de ondulações compostas por escorregadores listrados em cores vivas e diversas. Um arco-íris na noite. Sobre ele, pessoas deslizavam sentadas em um tapete. O fascínio foi tanto que ela, quando percebeu, já estava no topo do tobogã, ignorando os avisos da mãe para tomar cuidado.

Afobadamente sentou-se sobre o tapete marrom e pediu para o primo empurrar. Mas ele deve ter entendido algo como “arremessar”, e prontamente aplicou nas costas da menina um impulso de canhão. Em vez de escorregar, ela foi lançada ao ar como Aladim sobre o tapete voador. Pegou tanta velocidade que logo se viu sem o acessório mágico, que escapou debaixo dela e voou em outra direção.

As cores do arco-íris mesclaram-se num giro louco, de ponta-cabeça e invertidas, sumindo a reaparecendo, uma aquarela sem sentido nem controle misturando-se ao céu noturno que ora ficava em cima, ora embaixo, o vento fresco acariciando seu rosto e logo em seguida tacos de madeira batendo nele com força. As luzes do parque giravam sem controle e pequenos gritos ecoavam no ar. Foi tudo o que viu e sentiu enquanto caía sobre o tobogã e chocava-se sucessivamente com suas ondulações decrescentes.

Chegou ao final do arco-íris deitada, escorregando com a cara no chão até parar. Foi recepcionada por rostos desesperados e nenhum pote de ouro. Ouro mesmo eram os conselhos da mãe, que ela nunca ouvia.

(imagem retirada do Google)

1 perdidos por aqui:

Anônimo disse...

Karina,
Tudo bem?Há quanto tempo, não é?
Entrar aqui novamente me deu um prazer enorme. Estava em falta com você, e também com outros amigos da blogosfera que guardo com muito carinho no meu coração. Aos poucos vou visitar cada um, me perdoem aqueles que ainda não visitei.
Seus escritos poéticos, leves e ao mesmo tempo profundos são do meu gosto. Hoje, pude matar saudade do tempo que eu marcava ponto aqui, você se lembra?rsss
Que delícia descer no tobogã, que bela recordação eu tenho desse tempo!
Será que eu escrevi muito? Me empolguei! Adorei passar por aqui, você tem lugar cativo no meu coração, um grande abraço, tudo de bom!
Ivana = Fotos, Poesias e Emoções.

 
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