domingo, 5 de setembro de 2010

Desapego

Nunca dei ouvidos àquela história de inferno astral, segundo a qual você tem azar pra dar e vender no mês que antecede seu aniversário. Mas passei a acreditar nisso o mês passado. Agosto foi, literalmente, um inferno! Passei por situações complicadas, tudo parecia dar errado e o universo conspirar contra. Dentre os perrengues que passei, um dos piores foi o dia em que coloquei um CD de música no computador, ele travou e não ligou mais. A solução foi formatar o coitado e, consequentemente, perdi TUDO o que tinha nele. Fotos, músicas, textos, vídeos... foi tudo pelo ralo.

Nem preciso dizer que fiquei super mal, chorei e tudo mais. Mas, passadas algumas semanas comecei a me questionar: por que sofrer tanto por aqueles arquivos de computador? Afinal, já perdi mesmo! Aí eu reparei que sempre sou assim, com tudo: sou aquela que vai ao cinema, ao show, ao teatro e guarda o ingresso de recordação. Aquela que tem uma caixa cheia de cartões de aniversários e cartinhas que sempre pega pra reler. Aquela que morre de dó de apagar as mensagens de celular quando a caixa fica cheia e que não deleta os recados do Orkut de jeito nenhum. E que precisa ter fotos de todos os momentos da vida pra recordar depois. Uma noite, voltando da faculdade, eu conversava com uma de minhas amigas sobre isso e falei a ela que eu devo ser uma pessoa muito materialista. Ao que ela respondeu: - Não Ká, isso é apego!

APEGO. A palavra-chave. E o problema. Eu me apego demais às coisas e às pessoas, e quando elas se vão de algum modo, sofro à proporção da carga de sentimento que depositei nelas. Como dizia Clarice Lispector, “quanto mais vivia, mais acumulava coisas inúteis das quais não poderia desfazer-se sem dor.” E a maioria dessas coisas inúteis, se for pensar, nem tem tanto valor quanto eu acreditava. O difícil é aceitar e entender que cada coisa tem o seu momento e depois passa. A vida é feita de achados e perdidos e eu, por dar esse nome ao meu blog, já deveria saber disso.

Lembro que quando eu fazia cursinho, meu professor de História contou um caso mui engraçado: numa viagem que fez à Alemanha, ele conseguiu comprar (não sei de quem) um pedaço do extinto Muro de Berlim e trouxe de recordação. Pouca coisa, um pedaço de granito ou coisa do tipo. E deixou em cima da mesa da sala, como enfeite. Certo dia, ele chegou em casa e cadê o pedaço do muro? Sumiu! Procurou como louco e não achou. Dias depois, conversando com a empregada doméstica sobre o assunto, ela comentou: - Nossa, o senhor tá se referindo àquele negócio que tava em cima da mesa? Eu achei que era uma pedra e joguei fora!

Essa é a questão. Não enxergar como Muro de Berlim o que é uma simples pedra. Porque na verdade, é só uma pedra mesmo! Muro de Berlim é o valor sentimental que se atribuiu a ela. E eu continuo enxergando como Muro de Berlim tantas pedras que passam por minha vida! Sentimentos que não servem mais e permanecem aqui dentro, roupas que nem deveriam mais estar no meu armário. O mais irônico é que, ao me desfazer dessas coisas, depois nem lembro que existiram. As correntes eram imaginárias.

Agora, se me dão licença, vou ali na farmácia comprar um vidrinho de desapego e já volto.

(imagem retirada do Google)

3 perdidos por aqui:

Rodrigo Cavaleiro disse...

Não seria o específico mês que antecede o meu aniversário [que é em outubro] mas, Agosto é um mês que eu certamente posso conceituar como "Inferno Astral". Vai ver exista, ou talvez não... O que importa?

Quanto ao seu computador, saiba que não é difícil de recuperar a maior parte das coisas que perdeu, mesmo após a formatação. Caso queira, pelo menos as fotos... eu a ajudo.

Sabe... Não guardo muita coisa, alias, minha memória é seletiva eu esqueço praticamente tudo, mas o que fica vai virando fantasmas... ou aquela pedra lá.
Pelo nome do seu blog eu me identifico com o "PERDIDO", mas fico feliz se você me achar.

Beijo no joelho.

Ivana disse...

karina,

O Rodrigo é engraçado mesmo, não é? Eu dei muita risada com o comentário dele.

Não sou apegada a coisas materiais, ao contrário, eu me desfaço delas com uma facilidade impressionante!!! Já de pessoas, é uma dificuldade!!! Mas vamos aprendendo, ainda há tempo, mesmo eu não sendo jovem como você. Preciso dizer que eu adorei o que você escreveu? Você sabe que sim!!
Também fiquei um pouco distante, mas estou voltando hoje com um poema lá no Fotos, se você tiver tempo dá uma passadinha lá, tudo bem? Bjs e um feriadão muito legal para você!

Clara Sousa disse...

ah! Karina eu também sou muito apegada mas devo confessar-te que já fui mais. Depois que fui mãe, deixei mais disso, e depositei todas as minhas expectativas e sentimentos na minha filha e isso foi muito bom pra mim. Mas eu acho que um dia tbm vai passar pra vc!!

beijo grande!!

 
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