segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Realidade Utópica

Já passava das três da madrugada e ela estava no ônibus, na estrada, deixando a cidade pra trás. Como ela precisava disso, mudar de ares! Nem que fosse por alguns dias! No ônibus, as luzes estavam apagadas e todos dormiam. Menos ela, que não conseguia dormir em lugares públicos e olhava a estrada pela janela. Adorava a madrugada e o silêncio que ela oferecia. Resolveu tirar os fones do ouvido pra escutar a noite. O único ruído era o motor do ônibus e vez ou outra algum veículo que passava na pista oposta, os faróis iluminando a janela ao seu lado. Havia um pouco de neblina e fazia frio, muito frio. Os morros passavam sem que ela conseguisse distinguir seus contornos, o que tornava a paisagem um pouco monótona, mas quem se importava? Ela bocejou e fechou os olhos.

Começou a pensar em outras coisas, em como seria a viagem, no que faria chegando lá, nos amigos que ficaram na cidade. Um em especial. O que ele estaria fazendo este momento?

Foi quando uma luz amarela começou a invadir com frequencia suas pálpebras cerradas e ela teve que abrir os olhos novamente. O que era aquilo? Um trecho da estrada pontilhado de luzes amarelas, parecendo postes de luz ou velas acesas, a quilômetros de distância. Milhares, um ao lado do outro, as luzes minúsculas formando figuras sinistras na noite, em um lugar lááá embaixo. O que seria? Uma mini-cidade? Ao ver aquilo ela sentiu um deja vu e se arrepiou: não havia vivido aquela cena em vida, mas em sonho! Sim, os mesmos milhares de luzes amarelas vistas de cima, na escuridão da noite, era um sonho que ela tinha com frequência há muitos anos e não entendia o que significava. Como podia ela presenciar na realidade uma imagem que só conhecia em sonhos? Ou será a realidade que é utópica? Ela não sabia. Mas logo concluiu: as coisas com que sonho são mais reais do que imagino. Às vezes estão distantes, em outra cidade, mas basta pegar a estrada certa pra chegar a elas.

(imagem retirada do Google)

5 perdidos por aqui:

Ivana disse...

Oi Karina,
Que lindo!!!O final me tocou demais...às vezes sabemos a estrada, mas não podemos segui-la!
Um beijo e uma semana cheia de inspiração para você escrever mais dessas preciosidades para seus leitores!

angela disse...

Quem sabe onde estão nossos sonhos?
Talvez esteja certa, talvez morem em outra cidade.
Delicia de conto.
Amei ler.
beijos

Rodrigo Cavaleiro disse...

Que coisa... Estou um tanto mais emotivo do que deveria, algo como um momento frágil após matar alguns fantasmas necessários... daqueles que estão em nós e leva um pedaço de força, de corpo e inspiração. Então eu paro para ler por algumas repetidas vezes qualquer coisa que me venha fazer bem...

E aqui, não raro é, sorrir...
Tiro de, sabe-se lá o que são suas histórias de verdade ou mentira, o mais original e simples sorriso.

E talvez em uma interpretação feminina eu escrevi, isso tudinho aí pra dizer: Obrigado.

Salvou-me um pouco mais, e deu-me um pouco de direção.

' Quem sabe meus sonhos não possam ser reais? Quem sabe eu não acho à estrada..."


Beijo enorme, mesmo que sem sentido.

Hipérboles disse...

Que ótimo! Quase pego uma estrada lendo-o.

Um beijo

Anônimo disse...

Oi Karina,

Os sonhos costumam ser reveladores...

Beijos,

 
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