domingo, 20 de dezembro de 2009

Seres racionais?

Se é verdade que quase enlouqueci nesse fim de ano, com os trabalhos da faculdade, é também verdade que eles me adicionaram muito em conhecimento. Não me refiro apenas àquele conhecimento necessário pra conseguir nota e passar de ano, não. Muito mais do que isso: conhecimento que abre a sua cabeça e amplia a sua visão de mundo. E é desse que eu mais gosto.

Tive a oportunidade de ler diversos livros, entre eles, dois que me marcaram muito. Um, foi Hiroshima, de John Hersey, um clássico do jornalismo literário. O livro conta a história de seis sobreviventes da bomba de Hiroshima e tudo o que viveram logo após a explosão e também quarenta anos depois. É um livro muito comovente, não leia se não tiver o estômago forte. Todo mundo sabe o que foi a bomba de Hiroshima e suas conseqüências, mas ninguém tem a noção exata da intensidade do sofrimento das vítimas. As poucas que sobreviveram, não ficaram ilesas: sofreram até o fim de seus dias com efeitos causados pela radiação atômica, os quais continuam presentes nos genes dos filhos e netos dessas pessoas, causando deformações e graves problemas de saúde. Sem falar no trauma e nas condições desumanas que passaram. A vida delas foi alterada drasticamente para sempre.

Outro livro que li foi Anne Frank – Uma Biografia, da jornalista Melissa Müller. Não é o diário de Anne, esse eu já havia lido no ano passado. Me refiro à biografia mesmo, que fala sobre a infância de Anne, sua família e o tempo que ela passou no campo de concentração, ou seja, muita coisa além do diário. Sou fã de Anne, mesmo. Ela, com seus 14 anos de idade, tinha mais maturidade e inteligência do que muito adulto por aí, principalmente aqueles que tiraram sua vida (os nazistas). Acredito que a situação em que ela viveu contribuiu para que amadurecesse mais cedo. Mas me revolta seriamente saber que todos os seus sonhos e objetivos de vida foram mortos, juntamente com ela, num maldito campo de concentração. E quantos milhões de sonhos também não foram destruídos pela bomba de Hiroshima?

Os dois livros mostram o mesmo questionamento: como foi possível tantas pessoas serem coniventes com estes atos desumanos? Como o nazismo e o lançamento de bombas atômicas puderam ser realizados com sucesso? Todos sabiam que era um erro, que era assassinato, e mesmo assim os responsáveis não foram denunciados e muito menos impedidos de cometerem tais atrocidades. Simplesmente continuaram, e aqueles que assistiam a tudo isso se conformaram, sem nada fazer. Seria medo? Indiferença?

Boa parte da humanidade foi destruída pelos interesses insanos de poucos. E assim continua até hoje. O racismo, o sentimento de superioridade e o poder sobem à cabeça de uma minoria e são despejados em uma maioria inocente. Meus filhos, se vocês têm problemas na cabeça, vão se tratar e não descontem pra cima da humanidade, ok? Seres humanos não são cobaias e vidas não são descartáveis.

Ler estes livros me fez perceber que a guerra (seja ela qual for) não é apenas um problema gerado pelo contexto histórico e sócioeconômico. Acima de tudo, é um problema psicológico. Que persiste.

Caso tenham oportunidade, leiam. Hiroshima, Anne Frank – Uma Biografia e O Diário de Anne Frank são denúncias de uma realidade que muitos quiseram esconder – por ser insana.


“A história não se repete, disse Voltaire, mas o homem faz isso. O homem, com toda inteligência, é fraco e destruidor, e se deixa levar até perder seus ideais de vista. Então, ele começa – como se não fosse capaz de aprender – de novo. Não devemos deixar de ter esperança na capacidade de aprender do homem” (trecho extraído do livro “Anne Frank – Uma Biografia”, de Melissa Müller).

domingo, 13 de dezembro de 2009

Molho de tomate

Todas as manhãs, no trajeto pro trabalho, vejo essa árvore da foto. Que me chamou a atenção por um motivo especial: a cobertura de flores que a reveste. Tão densa, que me lembrou claramente um molho de tomate. Juro que havia tomado café da manhã e não estava com fome no dia em que reparei nela, mas ao bater o olho a primeira coisa que me veio à mente foi isso. Achei diferente, bonito, interessante. Contrasta com o resto da paisagem de concreto, monocromático. Talvez porque seja a única coisa que tem vida ali.

Pois bem. Todas as manhãs eu passava e olhava pra árvore, até que um dia parei e tirei foto. Fiz bem. Dias depois, a cidade de São Paulo foi atingida por intensas tempestades e ventos furiosos. A correria da rotina me desviou a atenção da árvore e, algum tempo depois, quando lembrei de olhá-la, me assustei ao vê-la toda verde, sem as flores vermelhas e radiantes de antes. O que aconteceu? O vento arrancou, a chuva levou. Não sobrou uma pétala pra contar história. Senti dó e fiquei triste, como se tivesse perdido alguma coisa. Mas quem perdeu foi a árvore. Perdeu a graça. E transformou-se em uma árvore comum, como as outras. Tanto que, depois disso eu não lembrei mais de olhar pra ela quando passava pelo local. Não havia mais aquele encanto de antes, a diversão de olhar e pensar: "nossa, parece que derramaram molho de tomate em cima da árvore!" Acabou a graça. E, pelo fato de não haver nada de diferente na paisagem, acabei me esquecendo da árvore. Ela continua lá, mas raramente reparo nela.

E aí eu percebi que certas coisas só têm charme devido aos detalhes. Se não fossem as flores, a árvore não me chamaria a atenção. E isso serve pra tudo. A gente admira certas pessoas devido a uma característica da personalidade, um modo de se vestir, um jeito de falar. Compra uma blusa porque acha legal a estampa dela. Gosta de uma música porque o arranjo instrumental é divino. Olha uma árvore porque as flores chamam a atenção. São os detalhes que fazem toda a diferença e dão beleza ao conjunto. Certas coisas não teriam graça sem um "molho de tomate" pra destacar. Não teriam gosto e nem beleza. O charme está nas minúcias, nas peculiaridades e diferenças de cada um.

Um mês se passou e as flores não nasceram novamente. A árvore deixou de ser única, como se tivesse perdido sua personalidade. Tudo porque igualou-se às outras.
 
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